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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Pedra de Rio, por Ney Matogrosso





Publicado em 11 de abr de 2016


Material inédito de acervo do filme "Yorimatã"

Ney Matogrosso, Luhli e Lucina cantam "Pedra de Rio" (Luhli/Lucina/Paulo César)



"DE MULHER, SÓ MESMO EU NAMOREI O NEY", conta Lucina.
Dos anos 70 aos 90, Luhli & Lucina formaram uma das principais duplas da MPB e viveram a fundo o sonho do amor livre.

Luhli e Lucina calculam ter, juntas, cerca de 800 músicas, das quais consideram boas "apenas" umas 500. Nós pudemos conhecer não muito mais que 10% delas, gravadas em sete discos da dupla ou por artistas como Joyce, Nana Caymmi, Frenéticas, Wanderléa, Tetê Espíndola.

Pela voz de Ney Matogrosso, cantamos Luhli & Lucina, mesmo sem saber quem elas eram, em canções fortes como "Pedra de rio" (1975), "Aqui e agora" (1976), "Bandolero" (1978), "Napoleão" (1980), "Coração aprisionado" (1980), "Eta nós" (1984)...

No primeiro show de Luhli e Lucina como uma dupla, em 1973, elas dividiam o palco com Ney e o também andrógino e libertário grupo Dzi Croquettes, de Lennie Dale. "Nós cantávamos 'O vira' com o Ney, e as Dzi vinham e mordiam nossas pernas enquanto a gente cantava 'vira lobisomem'", diverte-se Luhli.

O ambiente de comunidade hippie se desenvolvia com epicentro num casarão em Santa Tereza, no Rio. "Ney namorou a Lucina", revela Luhli, diante do sorriso plácido da (ex-)parceira. "De mulher, só mesmo eu namorei o Ney", sorri Lucina. 'Eram os anos 70, mas nunca foi promíscuo", demarca Luhli.

O sol acabou de se recolher na noite da floresta. Uma pega o violão. Outra pega a viola. Uma canta uma música solo, a outra a secunda. E vice-versa.

Lá fora faz 8 ºC, e estamos todos juntos na sala fria do chalé – os sacis, as fadas, os secos, os molhados. Diante da "Gira das ervas", eu não consigo – nem tento – evitar que as lágrimas rolem.
O choro se espalha entre os pouquíssimos presentes – o fotógrafo da Trip, os quatro jovens cineastas/músicos que as idolatram e preparam um documentário sobre Luhli & Lucina, sob direção de Rafael Saar. As duas também se emocionam. Entrelaçam as mãos, fazem confidências, suspiram fundo.

Ao som de viola, cantam "Eta nós", música brasileira profunda, "nós se conhecemo e se tornemo amigo/ mil música toquemo pros nossos ouvido", "mas um dia chegou e nós desprevenido/ caímo no chão como dois inimigo/ nos batendo, estropiando, destruindo o construído", 'e no milagre da lida/ o amor vira mel". As sombras das duas árvores se cruzam. Ramos novos brotam do chão. Sacis, fadas, pirilampos, elfos e orixás bailam em festa. Luhli & Lucina sempre existiram. Sempre.

CRÉDITOS : TRECHOS DA EXCELENTE MATÉRIA SOBRE LUHLI E LUCINA DE AUTORIA DE PEDRO ALEXANDRE SANCHES , PUBLICADA NA REVISTA TRIP,  EM 24.10.2011.

Catorze anos depois do fim da parceria, elas se reencontram a pedido da Trip para falar de música, liberdade e preconceito

 https://www.youtube.com/watch?v=EdHIxkz-X6w


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